sexta-feira, agosto 10, 2007

A morte - Parte 2

Por Eliphas Lévi

Nossas almas são como música, da qual nossos corpos são os instrumentos. A música existe sem os instrumentos, mas não pode ser ouvida sem um intermediário material; o que é imaterial não pode nem ser concebido nem compreendido.

Na sua existência atual, o homem só retém certas predisposições das suas existências prévias. Evocações dos mortos são apenas condensações de memória, a coloração imaginária das sombras. Evocar aqueles que não existem mais é apenas fazer com que seus tipos saiam de novo da imaginação da natureza.

Para estar em comunicação direta com a imaginação da natureza, o indivíduo deve estar adormecido, ou intoxicado, em um êxtase, em estado cataléptico ou louco. A memória eterna só preserva o que é imperecível; tudo o que passa no Tempo pertence, por direito, ao esquecimento.

A preservação de cadáveres é uma violação das leis da natureza; uma afronta contra a modéstia da morte, que oculta os trabalhos de destruição, assim como deveríamos ocultar os de reprodução. Preservar cadáveres é criar fantasmas na imaginação da terra; os espectros do pesadelo, da alucinação e do medo são apenas as fotografias ambulantes de cadáveres preservados.

São estes cadáveres preservados ou imperfeitamente destruídos que espalham, entre os vivos, as pragas, a cólera, as doenças contagiosas, a tristeza, o ceticismo e a falta de gosto pela vida. A morte é exalada pela morte. Os cemitérios envenenam a atmosfera das cidades, e o miasma dos cadáveres faz mal até mesmo às crianças que estão no colo de suas mães.

Artigo publicado em The Theosophist em outubro de 1881.

2 comentários:

amrita do himalaya disse...

No entendimento de Eliphas Lévi,o processo de mumificação era algo então totalmente inadequado.
Tanto o processo de mumificação natural que era através da terra,como o que era através da retirada dos órgãos e envolvimento nos tecidos de linho, os dois há de se convir,eram bastante agressivos.
Curioso é que se falava que esse processo tinha a finalidade de preservação do espírito.

Hoje, na ciência mais moderna se fala da Criogenia,o congelamento de corpos.

Na verdade toda e qualquer tentativa de preservação de corpos significa a não aceitação da morte.
Ou melhor uma tentativa ainda em vão de evitar o perecimento do corpo físico e quem sabe espiritual!!!!!

Anônimo disse...

Isso mesmo, Amrita!
Como o homem é apegado à matéria! De tanto apego, não consegue perceber a eternidade do espírito.
Talvez o néctar da imortalidade seja essa percepção...