O apóstolo da fraternidade universal

Pregador itinerante, defensor dos pobres, amigo dos animais. Esses são os traços recorrentes do perfil de São Francisco de Assis. No entanto, grande parte do que se sabe sobre sua vida pode ser produto de lendas e de centenas de anos de iconografia piedosa, de tal maneira que o homem extraordinário ficou oculto por sua própria imagem de santo.

Embora não fosse um intelectual e, na verdade, tivesse pouca educação formal, ele será um poeta nato e irreprimível cantor. Escreveu em latim medieval e em italiano da região da Umbria e, tanto quanto se sabe, foi o compositor da primeira canção em italiano. Ele deixou sua marca na arte, na literatura e na história da civilização ocidental. Dante, nascido 40 anos após sua morte, dedicou ao santo de Assis quase a totalidade de um dos cantos da Divina Comédia. Não é exagero dizer que todas as expressões italianas subseqüentes de cultura religiosa devem algo a São Francisco, desde os afrescos de Cimabue e Giotto até os filmes de Vittorio de Sica e Federico Fellini, que estão impregnados de uma profunda sensibilidade franciscana.

Com a renúncia definitiva aos bens materiais paternos, São Francisco deu início à sua vida religiosa, unindo-se à "Irmã Pobreza". Fundou a Ordem dos Frades Menores, que em poucos anos se transformou em uma das maiores da Cristandade e fundou, com Clara de Assis, o ramo feminino da Ordem.

Entender sua mística é mergulhar no oceano da liberdade, da alegria, humildade e compaixão, expressões puras do amor ao Criador que às vezes fazem um homem ser tomado por louco, como foi o seu caso. Trata-se de um personagem histórico e mítico que chega aos tempos atuais como arquétipo de simplicidade, não-violência, jovialidade e amor à natureza. E como paradigma da virtude e humildade, desperta uma nova liberdade, reconhecendo-se como irmão de tudo e de todos, e sempre como a menor das criaturas de Deus.

Publicado originalmente no Mensageiro Celeste nº 20, edição de janeiro de 2005.