NOVOS ESTADOS DE CONSCIÊNCIA

Tem-se dado sempre uma grande importância àquilo em que cada um crê e, conseqüentemente, dividiram-se os homens segundo suas crenças. Não obstante, mais importante é como crê um ho- mem, e não o que ele crê. Pode-se dizer que se crê em Deus e que se deseja o bem de todos os homens. Mas, segundo o estado de consciência, o amor a Deus pode significar destruição e morte, ou abnegação e oferenda.

Deus não significa o mesmo para todos. A noção de Deus se amplia quando se expande o estado de consciência. Um ho- mem pode querer não se limitar dentro da idéia que outro ho- mem tem de Deus. Isto não significa que não "creia" em De- us mas que sua amplitude interior lhe permite uma compreen- são ou intuição mais profunda do Divino. Cada estado de consciência determina uma visão particular da vida, do mun- do e também de Deus. Estas diferenças aparentes só se po- dem compreender num estado de consciência mais amplo. Não se trata de conciliar as opiniões díspares das diversas crenças, mas de localizá-las em relação com o alcance e as possibilidades de cada estado de consciência.

Por mais excelsa e espiritual que seja a mensagem que se transmita às almas, elas a compreendem de acordo com seu estado de consciência; geralmente a entendern de forma vaga, difusa. Só conseguem ver com clareza o passo ime- diato, o esforço concreto que lhes permite ampliar seu esta- do de consciência. Não há acrobacias na vida espiritual. As almas hão de ser levadas passo a passo, por etapas para sua realização interior, para a União Divina.

O amor a Deus não é próprio de um só estado de consciên- cia. É a força espiritual que impele a alma continuamente para que expanda seu estado de consciência e manifesta-se com características diferentes à medida que a alma passa de um a outro estado de consciência. Para o homem primi- tivo Deus é o Grande Chefe que lhe permite encontrar ali- mento, sobreviver ao ataque das feras ou das enfermidades, destruir as tribos inimigas. Para almas mais adiantadas, Deus é o supremo amor ao qual se unem pela oferenda e renúncia de si mesmas.

À primeira vista, a descrição dos sucessivos modos de amar do homem poderia fazer supor que o adiantamento consiste em amar a um número cada vez maior de pessoas, e que is- to se refletiria em um novo estado de consciência. Amar ma- is sempre é um adiantamento, porém não significa necessa- riamente uma mudança no estado de consciência. Em cada sucessivo estado de consciência, aperfeiçoa-se a natureza do amor.

Amar a outro, além de amar a si mesmo, é bom; porém o amor ao outro pode ser só outra maneira de amar a si mesmo. Amar a todos não é amar a si mesmo, amar mais outro, mais outro, mais outro. Começa-se a amar a todos quando não existe "outro". Isto é um novo estado de consciência, um novo amor.

WAXEMBERG, Jorge. Da Mística e dos Estados de Consciência, pp.21-23, São Paulo, ECE, 1980.