sábado, novembro 27, 2010

Ensaio sobre a fé

Por Adilson Marques

A Fé é um sentimento inefável. Toda e qualquer tentativa de a explicar é vã. Mas podemos dizer o que ela não é. Ela não é e nunca será cega ou raciocinada. A fé cega é aquela que vê Deus como um escravo que vai satisfazer todos os nossos desejos. Assim, se a pessoa está doente e o médico diz que tem que fazer uma transfusão de sangue ou quimioterapia, por exemplo, ela diz que não vai fazer nada disso porque Deus vai curá-la. A fé cega não enxerga Deus também na ação do outro. Trata-se de uma visão egocêntrica que vê o ser humano como um senhor todo absoluto e Deus como seu escravo.

A segunda forma é a tal de fé raciocinada. Esta é a famosa fé de são Tomé, aquela do ver para crer. Essa predomina naqueles que freqüentam centros espíritas. Como o nome diz, ela é raciocinada e, portanto, não chega ao coração. Alguns exemplos de fé raciocinada são os seguintes: a pessoa passa por dificuldades em vários setores da vida ou está obsedada (sofre um assédio extra-físico) e culpa todo mundo por isso. Ela é uma vítima inocente de um mundo cruel. Porém, quando alguém lhe explica que está colhendo o que semeou no passado, ela aceita que não é tão vítima como pensava. Enquanto não recebe uma explicação racional, aquele que racionaliza a sua fé sempre vai se ver como vítima de alguém (e aqui pode ser também de um ser incorpóreo) até entender o seu sofrimento.

Como salientei, nenhuma das duas abordagens acima demonstra sinal de Fé. Enquanto sentimento, a Fé é uma entrega incondicional a Deus, portanto, quem tem Fé não julga, não se vê como injustiçado e nem se coloca como centro do Universo. Simplesmente acolhe tudo aquilo que acontece em sua vida como sendo a obra de Deus. Quem tem Fé não racionaliza, apenas vive os fatos “positivos” e também os “negativos” de sua existência, agradecendo pela oportunidade de aprendizados que toda e qualquer experiência proporciona.