domingo, setembro 18, 2011

O desabrochar da consciência: o sentido do ser



Transcrição: “Os seres humanos estão encurralados há milhares de anos num sentido egóico do eu que consiste em um acúmulo de conteúdo mental. Os humanos são uma espécie que se baseou no conteúdo, ou seja, têm extraído a noção de quem são do conteúdo de sua mente. Seja o que for que a mente acumula desde tenra idade, começa com o nome que se recebe. Chamo a isso o baú no qual suas experiências vão sendo jogadas e se acumulam. E então esse baú é o nome que você pensa ser, que seus pais lhe deram, e que se torna o recipiente das experiências acumuladas – conhecimento acumulado, êxitos e fracassos, sofrimentos, relacionamentos, tudo isso formando aos poucos um todo que sou eu, um eu formado a partir da mente.

Peço a vocês que apenas por um momento imaginem-se sem um nome. Como se sentirão se não souberem quem são no nível de conceitos, ou seja, se possível, por um momento imaginemos que o baú não existe mais. O que é que resta se não somos mais o nome e aquilo que se acumula no baú? É claro que o nome é apenas um som, é apenas um som que saiu da sua boca. E se não for pronunciado, é apenas uma imagem na cabeça, e isso sou eu. E o que é que fica quando isso não existe mais e você não consegue se lembrar do seu nome e não se importa em não saber. Aí a experiência acumulada, todo o condicionamento, perde seu valor. Ainda está lá, mas não é um eu, as coisas aconteceram, mas ela não está mais personalizada.

Há apenas um campo de percepção e é isso que você é. E a história que você tem na sua cabeça sobre quem você é, torna-se pouco importante, não lhe dá mais uma identidade. Você não mais extrai um sentido de eu a partir da história em sua cabeça, que é uma experiência acumulada, o saber acumulado, e você sente um eu a partir do que foi acumulado, o conteúdo da mente. Toda experiência é conteúdo. Tudo o que acontece a você: algumas experiências são arquivadas e tornam-se parte desse conteúdo, reforçam o sentido de eu, acumulam e destacam o sentido de eu. Então, quando você vive assim, a partir de um sentido fictício de eu, você está sempre procurando por algo que aumente seu sentido de eu, para fortalecê-lo ou protegê-lo, porque talvez você perca o conteúdo ou queira acrescentar ao que você é.

A sensação de não estar completo é um ingrediente essencial ao sentido fictício de ser. Todos sentem isso e todos pensam que é um problema pessoal. A própria sensação de não estar completo torna-se parte de quem você é e de quem você está se esforçando para ser. Você ainda não chegou lá e até aquelas pessoas a quem o mundo diz que chegaram lá, sentem que não chegaram. E há algo errado, o mundo entendeu mal, estão me dizendo que consegui, mas eu sinto que não. Então você lê sobre pessoas que têm tudo: fama, dinheiro e beleza, e não conseguem parar de beber e vão de um psiquiatra a outro. Será que conseguiram? E em nossa cultura são tidos como exemplos. Você também pode ser assim... E todo mundo aceita isso. E então, a mensagem dessa nossa cultura é que SIM, você pode conseguir. Veja todas essas pessoas. Elas conseguiram. Se você as conhecer concluirá que não conseguiram. E algumas até vêm aqui, leram o livro, algumas pessoas famosas adoram “O Poder do Agora”, porque viram claramente que aquilo que o mundo lhes dizia não era verdade - não fosse por isso jamais leriam. Para quê?

Se você conseguiu, chegou lá, não vai procurar transformação espiritual. Então é ótimo que algumas dessas pessoas que alcançaram o maior sucesso do mundo percebam que não é isso. Basicamente eu continuo sem saber quem sou, e acordo no meio da noite num estado de grande medo e ansiedade, e meus relacionamentos continuam um caos. Para ver que é fútil a tentativa de completar-se, de encontrar um sentido de eu mais realizado e completo no nível da história. Essa tentativa é fútil, porque em sua cabeça, você não vai conseguir contar a história sobre quem você é. Nenhuma história tem final feliz. Há alguns falsos finais felizes, como um casamento. Esse era o final feliz tradicional em filmes e peças, mas todos sabemos que é um final feliz falso. Não existe final feliz porque todos os seus êxitos vão se dissolver e você vai morrer. E aí não importa quantos milhões você tem no banco. Eles perdem o sentido.

O que fica de cada história é o espaço de cinco centímetros na lápide, entre as datas do seu nascimento e morte. Um traço que contém todo o sofrimento e todo o drama que eram parte de mim e de minha história. E alguém tira daí o sentido de eu. Pensaram que eram isso. É triste que nunca tenham percebido quem eram. Seu sentido de identidade ficou a vida inteira aprisionado na ficção. Se tiverem sorte, pode ser que pouco antes de morrer, ou no seu leito de morte, a história toda desmorone e emerja outra coisa.

Isso às vezes ocorre quando a morte se aproxima. Talvez esteja a poucos minutos ou horas, e de repente... Pessoas que acompanharam moribundos relataram que em algumas circunstâncias subitamente há uma clareza, é quase como uma luz que surge e isso ocorre quando se dissolve o sentido de identidade que vem da mente, o falso sentido de identidade. Porque isso obscurece muito a luz de consciência que existe em um nível mais profundo. Pode acontecer que essa ficção se dissolva logo antes da morte. E de repente é como se houvesse um desabrochar, uma florescência, uma enorme luminosidade. É como se uma flor acabasse de se abrir, e poderia ter se aberto antes, mas abriu-se poucos momentos antes da morte. Mas pelo menos abriu-se. Poderíamos dizer que foi realizado o propósito daquela vida. Mas a mensagem aqui é que você não precisa esperar a chegada da morte para saber quem você é, para ir além da imagem mental de quem você é. Você não precisa esperar a aproximação da morte, porque pode ser que nem aí você compreenda. Pode ser que você fique prisioneiro daquela imagem mesmo ao morrer, e isso significa que morrerá em terrível, terrível estado de medo e ansiedade, porque aquela imagem está morrendo, o eu está lá morrendo." [Transcrição parcial do vídeo “O Poder do Agora”, de Eckhart Tolle]

Colaboração da irmã Yara Rodrigues, aluna do Curso Missão Celeste II.