terça-feira, fevereiro 13, 2007

ILUMINAÇÃO - 1ª parte

OS CAMINHOS PARA A ILUMINAÇÃO
Johannes Zeisel

Marcel Proust, romancista francês, autor de Em Busca do Tempo Perdido, descreve uma iluminação que teve enquanto observava três pinheiros. Ela explodiu dentro dele como um raio numa tempestade, levando-o a um estado indescritível de união com todos os seres e com tudo o que existe. Mas Proust não era um santo, nem um moralista ou asceta; era um indivíduo que vivia bem e se divertia - um boêmio nato que amava as mulheres e a vida alegre. Como então ele teve o privilégio dessa iluminação?

Em primeiro lugar, esse fato nos prova que ao intuitus mysticus não importam as formas exteriores, as aparências. Ele se esconde nas profundezas de nosso ser e não é influenciado por nosso comportamento moral e ético. Ele é tão moral ou amoral, quanto Deus ou a natureza. O bem e o mal pertencem somente às escalas humanas de valores necessários à sobrevivência. Devemos pensar apenas o que significa bem e mal: bem é tudo aquilo de que gostamos e que nos é útil; mal, o que nos prejudica e o de que não gostamos. São esses os nossos valores. O restante da criação tem de se sujeitar a essa escala.

A iluminação não surge da consciência de nosso "eu", mas do inconsciente - um superconsciente que permanece intocado pela nossa escala de valores. E esse é o segundo ponto importante a ser considerado. A experiência nos mostra - e os grandes místicos afirmam - que esse "eu", e seu campo egocêntrico, tem de ser expulso da alma, para poder ser substituído pelo numinoso. O "eu" aqui é o pólo negativo frente ao pólo positivo que é Deus; é o princípio luciferiano que se rebela contra o Criador. O "eu" quer viver, preservar-se; quer imortalidade, ser igual a Deus. Mas, ao mesmo tempo, ele sabe que nada é frente ao Ser Supremo. Por isso, assume sempre o papel daquele que pede, implora ou exige, ou o do renegado e cínico.

Em todo o caso, o "eu" revela sempre quanto está distanciado de Deus e desesperado. Assim, ele é o centro de nossa existência; está inevitavelmente no caminho do nosso reconhecimento da natureza, mas totalmente entregue a sua polaridade. Por outro lado, dizemos que sem esse "eu" nada seria possível. Sem ele seríamos iguais aos animais, entregues ao instinto. Já que somos o "eu", vemos tudo sob seu prisma e, para nós, Deus é também uma forma de nós mesmos. Então, de repente, sentimos que Deus não cabe em nossa escala de valores e nos é totalmente incompreensível. (continua)

Publicado originalmente na revista Planeta, edição de fevereiro de 1986.

Um comentário:

sahalliwell disse...

Eu me sinto uma iluminada!
trabalho na ceu há um tempao, não precisei operar meu coraçaõ..
faço facul do q gosto.... tenho amigos q amo mtoooooo.. enfim..ahhaha
sou pura luz...

nenhum pouco modesta!
brincadeira!rs


Sou uma irradiadora dessa luz!!
Ao menos procuro ser!