domingo, março 25, 2007

SÃO JOÃO DA CRUZ

Místico, renovador, São João da Cruz foi perseguido, preso e espancado por outros religiosos, politicamente poderosos, irritados porque ele colocava em prática o ensinamento cristão mais autêntico. Ele mostra de que modo a luz espiritual pode vencer o erro e resgatar, um após o outro, todos os indivíduos da humanidade.

Na caminhada espiritual, é fácil confundir o mal com o bem. A mentira busca disfarçar-se com toda aparência de verdade, não é?

Entre os numerosos ardis usados pelo demônio para enganar os espiritualistas, o mais comum é enganá-los sob a aparência de bem e não sob a aparência de mal; pois ele sabe que, conhecido o mal, eles dificilmente o abraçariam. E, assim, deves ter cuidado sempre com o que te parece bem.

Sua obra escrita é um dos pontos altos da tradição cristã. Mas o caminho espiritual que você ensina não é fácil, porque recomenda um desapego completo em relação a tudo. Que cautelas são necessárias em relação ao mundo externo?

A primeira é que todas as pessoas tenham igual amor e esquecimento, desprendendo o coração tanto de uns como de outros. Considerar a todos como estranhos e dessa maneira cumprir o teu dever para com eles melhor do que pondo neles a afeição que deves a Deus. Se fores omisso em observar esses pontos, não saberás ser religioso, nem poderás chegar ao santo recolhimento, nem livrar-te das imperfeições que isso traz consigo.

Isso significa ser justo e impessoal em todas as situações. Não é fácil, mas necessário. E a segunda cautela?

A segunda cautela contra o mundo se refere aos bens temporais. Para te livrares, completamente, dos danos dessa espécie, é necessário rejeitares toda forma de propriedade. Não deves ter preocupação alguma a esse respeito, empregando essa energia em outra coisa mais elevada, que é buscar o reino de Deus, porque o resto "ser-nos-á dado por acréscimo" (Mt: 6,33).

O que você propõe é uma simplicidade radical no nosso modo de viver. Mas alguns pensam que é possível conciliar o aprendizado espiritual com riquezas e satisfações materiais...

Como quem empurra um carro ladeira acima, assim caminha para Deus a alma que não afasta de si os apegos nem apaga o apetite. Não é da vontade de Deus que a alma se perturbe com coisa alguma nem que padeça angústias; porque se as padece é por fraqueza da sua virtude, pois a alma perfeita tem prazer com aquilo que aflige a imperfeita.

Para a filosofia esotérica, Deus é, na verdade, a lei eterna do equilíbrio, do amor e da harmonia. Como é possível entrar em contato com a lei universal?

Considera que Deus só reina numa alma pacífica e desinteressada. Mesmo que faças muitas coisas, se não aprenderes a negar a tua vontade e sujeitar-te, despreocupado em relação a ti mesmo e às tuas coisas, não te adiantarás na perfeição.

Muitas pessoas são escravas de desejos egoístas. Quais são as conseqüências disso?

Todo apetite causa na alma cinco danos: o primeiro, é que a inquieta; o segundo, que a perturba; o terceiro, que a suja; o quarto, que a enfraquece; o quinto, que a obscurece.

O silêncio interior é fundamental para a compreensão da verdade. Mas como eliminar o ruído mental causado pelos desejos?

Quanto mais te apartas das coisas terrenas, mais te aproximas das celestiais. Quem para tudo souber morrer terá vida em tudo. Aparta-te do mal, faze o bem e busca a paz. Quem se queixa e murmura não é perfeito, nem mesmo bom cristão.

Adaptado da revista Planeta (ed. 360) e publicado originalmente no Mensageiro Celeste nº 11, edição de abril de 2004.

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