
Não somos castigados por causa dos nossos erros, como geralmente se crê, mas por sim por eles, ou seja, os nossos próprios erros nos castigam. Pusemos nossos dedos no fogo e agora estamos sentindo que queimam: eis tudo. Não podemos ofender o Absoluto nem causar-lhe mal. Podemos, porém, ofender os outros e, ao prejudicá-los, prejudicarmo-nos juntos. Sob a operação da lei do karma cada homem é senhor do próprio destino, segundo a lei do livre arbítrio, que faz com que sejamos nossos próprios juízes e executores.
Podemos formar karmas por manifestações que são resultados de efeitos de causas movimentadas em nossas vidas passadas, por ações que estamos produzindo neste momento através de pensamentos e obras os quais serão resgatados no futuro, e, pode se dar também, o caso de "conflito de karmas", ou seja, nenhum dos dois se manifestar no presente, por serem ambos poderosos e de naturezas opostas. Se um dos dois "vencer", o outro só se manifestará em outras vivências.
Existe um ramo da filosofia iogue, o karma yoga, que estuda exatamente a ioga das obras, o caminho da ação. A primeira de suas lições é a de que somos uma unidade de mecanismo total, que nada é sem importância e que tudo está sujeito a esta lei. Quanto ao "segredo da ação ou da obra" se baseia no desapego. Desapegar-se, porém, não significa que se deva suprimir o prazer; significa que ele não deve estar condicionado a coisas externas ou a pessoas, e sim à felicidade interior. A idéia fundamental do desapego é evitar que se fique enleado nas redes da irrealidade da vida.
Convém explicar melhor: num certo sentido, tudo é irreal, porque se baseia na nossa concepção de realidade. A ilusão é maya. Toda a atividade do mundo, com seus sofrimentos e paixões, é somente uma ilusão, carente de realidade. Quando se atinge o conhecimento, tal ilusão se desvanece e o sábio percebe então que sempre possuiu o nirvana.
MICCOLIS, Leila. Do Hum ao Om, pp. 29-30, 1ª ed., Rio de Janeiro: LDE, 1988
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