domingo, setembro 16, 2007

Águia ou galinha?

Colaboração do Ir.: Raimundo Nogueira

Era uma vez um camponês que foi à floresta vizinha apanhar um pássaro para mantê-lo em sua casa. Conseguiu pegar um filhote de águia. Colocou-o no galinheiro junto com as galinhas. Comia milho e ração própria para galinhas. Embora a águia fosse o rei / rainha de todos os pássaros. Depois de cinco anos, este homem recebeu a visita de um naturalista. Enquanto passeavam pelo jardim, disse o naturalista:

- Este pássaro aí não é uma galinha. É uma águia.

- De fato, - disse o camponês. É águia. Mas eu a criei como galinha. Ela não é mais uma águia. Transformou-se em galinha como as outras, apesar das asas de quase três metros de extensão.

- Não - retrucou o naturalista. Ela é e será sempre uma águia. Pois tem um coração de águia. Este coração a fará um dia voar às alturas.

- Não, não - insistiu o camponês. Ela virou galinha e jamais voará como águia.Então decidiram fazer uma prova. O naturalista tomou a águia, ergueu-a bem alto e desafiando-a disse:

- Já que de fato você é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, então abra suas asas e voe!

A águia pousou sobre o braço estendido do naturalista. Olhava distraidamente ao redor. Viu as galinhas lá embaixo, ciscando grãos. E pulou para junto delas.O camponês comentou:

- Eu lhe disse, ela virou uma simples galinha!

- Não - tornou a insistir o naturalista. Ela é uma águia. E uma águia será sempre uma águia. Vamos experimentar novamente amanhã.

No dia seguinte, o naturalista subiu com a águia no teto da casa. Sussurou-lhe:

- Águia, já que você é uma águia, abra suas asas e voe!

Mas quando a águia viu lá embaixo as galinhas, ciscando o chão, pulou e foi para junto delas. O camponês sorriu e voltou à carga:

- Eu lhe havia dito, ela virou galinha!

- Não - respondeu firmemente o naturalista. Ela é águia, possuirá sempre um coração de águia. Vamos experimentar ainda uma última vez. Amanhã a farei voar.

No dia seguinte, o naturalista e o camponês levantaram bem cedo. Pegaram a águia, levaram-na para fora da cidade, longe das casas dos homens, no alto de uma montanha. O sol nascente dourava os picos das montanhas. O naturalista ergueu a águia para o alto e ordenou-lhe:

- Águia, já que você é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, abra as suas asas e voe!

A águia olhou ao redor. Tremia como se experimentasse nova vida. Mas não voou. Então o naturalista segurou-a firmemente, bem na direção do sol, para que seus olhos pudessem encher-se da claridade solar e da vastidão do horizonte. Nesse momento, ela abriu suas potentes asas, grasnou com o típico kau-kau das águias e ergueu-se soberana, sobre si mesma. E começou a voar, a voar para o alto, a voar cada vez para mais alto. Voou... voou... até confundir-se com o azul do firmamento...

Esta parábola evoca dimensões profundas do espírito, indispensáveis para o processo de realização humana: o sentimento de auto-estima, a capacidade de dar a volta por cima das dificuldades quase insuperáveis. Cada pessoa tem dentro de si uma águia. Ela quer nascer. Sente o chamado das alturas. Busca o sol.

Uma águia tem dentro de si o chamado do infinito. Seu coração sente os picos mais altos das montanhas. Por mais que seja submetida a condições de escravidão, ela nunca deixará de ouvir sua própria natureza de águia que a convoca para as alturas sublimes.

As pessoas que alçam vôo sublime são as que se recusam a deitar-se, a suspirar e desejar que as coisas mudem! Tais pessoas não reclamam sua sorte e tampouco sonham, passivamente, com algum navio longínquo que vai chegando para levá-la pra bem longe. Em vez disso, visualizam em suas mentes que não são desistentes; não permitirão que as circunstâncias da vida as empurrem lá para baixo, e as mantenham subjugadas como galinhas. Vamos, voe... Voe e vença, ocupe o lugar a que é seu no alto do penhasco.

'A águia gosta de pairar nas alturas, acima do mundo, não para ver as pessoas de cima, mas para estimulá-las a olhar para cima' (Elisabeth Kübler - Ross)

Extraído do livro de Leonardo Boff "A águia e a galinha"

3 comentários:

amrita do himalaya disse...

Acredito que todo ser humano nasça com a essência do vôo aquilino.

Mas no meio do caminho se encontram as mais variadas montanhas,abismos,ilhas,e se não há o equilíbrio necessário em cada um desses acidentes naturais ou não ,se vai perdendo partes dessas asas.

Por tudo isso é tão necessário o equilíbrio do espiríto.Para que o nosso vôo retorne ou se mantenha ou chegue a pairar nas alturas eu o busco através do meu caminho espiritual.
Que é pelo menos para mim a forma mais racional e palpável de alcançar ou manter a minha essência aquilina.

Adorei a parábola.

Anônimo disse...

"Hoje estive na CEU a convite de uma amiga, gostei muito, e o blog está de parabéns, muito espirituoso!."

Augusto - RJ

Anônimo disse...

Este é um dos livros que li, reli e releio. Com ele aprendi que devemos, embora não seja nada fácil, equilibrar a galinha e a águia que vivem dentro de nós. Buscar a realidade, o estar no mundo como agente, sem perder a capcidade de sonhar, de voar em busca de novos horizontes. Então a minha resposta à questão "Águia ou galinha"? será sempre - Águia e Galinha...
Para quem gostou deste, vale a pena ler o outro - O despertar da águia - dia-bólicoo e o sim-bólico na construção da realidade.
Marizeli