sábado, agosto 23, 2008

O VALOR DO RITUAL RELIGIOSO

Segundo os arqueólogos, a espécie humana adotou rituais há pelo menos 100 mil anos e todas as culturas conhecidas cultuam algum tipo de religião. Há até mesmo práticas espirituais que sobre- viveram a governos que tentaram eliminá-las. E apesar do racio- nalismo científico no século XX, a religião continuou a florescer. Mas por que afinal crenças, práticas e instituições religiosas continuam a ser um componente essencial da vida social humana?

A ecologia comportamental diz que a espécie humana está cons- tituída de forma a otimizar o modo como extrai energia do meio. Edward Taylor, no século XIX, afirmava que a religião surgiu do equívoco, cometido pelos “primitivos”, de tomar os sonhos como realidade. Sonhos com ancestrais mortos os teriam feito a acreditar na sobrevivência dos espíritos à morte. Para Bronislaw Malinowski, no início do século XX, “a religião surge das tragédias reais da vida humana, do conflito entre os anseios humanos e a realidade”. De fato, a religião atenua o medo da morte e proporciona alguma satisfação à incessante busca por respostas.

Para William Irons, ecólogo comportamental da Northwestern Uni- versity, Estados Unidos, o dilema universal é a promoção da coo- peração na comunidade. Para ele, o principal benefício adaptativo da religião é sua capacidade de facilitar a colaboração no interior do grupo em relação a atividades fundamentais na história evolutiva do homem. A cooperação é um ideal difícil de ser coordenado e alcançado. Exige mecanismos sociais que impeçam as pessoas de tirar proveito sem participar dos esforços dos outros, e a religião é um desses mecanismos.

A idéia de Irons é que as atividades religiosas sinalizam aos outros membros a adesão ao conjunto. Ao se empenhar no ritual, o indi- víduo está dizendo: “Identifico-me com o grupo e acredito naquilo que lhe é caro”. O comportamento religioso, mediante essa capa- cidade de sinalizar adesão supera o problema dos aproveitadores e promove a cooperação. Isso porque a confiança está no centro desse problema: um membro deve assegurar a todos que participará das atividades do grupo. Muitos podem fazer promessas – “dou minha palavra, mostrarei a você amanhã” – mas, a menos que a confiança esteja estabelecida, tais declarações não são críveis. [continua]

Publicado originalmente no Mensageiro Celeste nº 23 em julho de 2005.

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