quinta-feira, agosto 28, 2008

O VALOR DO RITUAL RELIGIOSO - cont.

Embora benefícios físicos ou psicológicos possam estar associados a certas práticas rituais, o tempo, a energia e os custos financeiros envolvidos constituem uma barreira para os que não acreditam nos ensinamentos da religião. Nada estimula os que não crêem a se jun- tar ou permanecer no grupo religioso, já que os custos envolvidos são elevados.

Os que cumprem as exigências rituais impostas por uma religião acreditam sinceramente nas doutrinas da comunidade religiosa, e os outros podem confiar nisso. Ao aumentar os níveis de confiança e adesão entre seus membros, os grupos religiosos minimizam os cus- tosos mecanismos de controle, necessários quando é preciso enfren- tar o problema dos aproveitadores que prejudicam a obtenção dos objetivos comuns. Assim, a vantagem adaptativa do comportamento ritual é sua capacidade de promover e manter a cooperação, desafio que, provavelmente, nossos ancestrais enfrentaram ao longo da evo- lução.

Segundo essa teoria do ritual como “sinal dispendioso”, os grupos que impõem as maiores exigências obterão altos níveis de devoção e adesão. Os grupos cujos membros sejam mais comprometidos po- dem também oferecer mais, já que atingem com menor dificuldade os objetivos coletivos. Isso ajuda a explicar um paradoxo no merca- do religioso: as igrejas que mais exigem de seus adeptos exibemos índices mais altos de crescimento. Por exemplo, os mórmons, os ad- ventistas do sétimo dia e os testemunhas-de-jeová, que proíbem, respectivamente, cafeína, carne e transfusão de sangue (entre ou- tras coisas), estão crescendo a ritmos excepcionais. Em contraste, as seitas liberais protestantes, como as metodistas,presbiterianas e episcopais, estão perdendo adeptos.

A capacidade dos rituais religiosos de evocar experiências emocio- nais que podem ser associadas a conceitos sobrenaturais diferencia-os dos rituais animais e seculares e está na base de sua eficácia pa- ra promover e manter a cooperação de longo prazo. A pesquisa evo- lutiva sobre o comportamento religioso está apenas começando, e muitos problemas ainda têm de ser abordados.

A teoria do ritual como sinal dispendioso parece fornecer algumas respostas e o valor real dessa teoria será estabelecido pela sua capa- cidade de explicar fenômenos religiosos em diferentes sociedades. A religião, provavelmente, sempre serviu para fomentar a união entre seus praticantes. Infelizmente, há também o lado sombrio dessa co- munhão. Se a solidariedade intragrupo, proporcionada pela religião, é uma de suas mais importantes vantagens adaptativas, então, des- de o início, a religião provavelmente desempenhou um papel nos con- flitos intergrupais e isso parece ser tão verdadeiro hoje quanto an- tes.

Publicado originalmente no Mensageiro Celeste nº 23 em julho de 2005.

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