domingo, maio 09, 2010

O apanhador de estrelas

Esta história foi inspirada na obra de Loren Eiseley, um homem extraordinário que combinava o melhor de duas culturas: ele era cientista e poeta. Foi a partir dessas duas perspectivas que Eiseley escreveu com perspicácia e brilhantismo sobre o ser humano e o seu papel no mundo.

Era uma vez um homem sábio, um escritor, que tinha por hábito andar até o mar, antes de iniciar sua rotina de trabalho. Isso o transmitia inspiração. Certo dia, ele caminhava pela praia, quando avistou ao longe uma silhueta de alguém que parecia dançar. Ele sorriu e, intrigado, perguntou a si mesmo o que faria alguém dançar ali sozinho tendo apenas o dia como espectador. Apressou o seu passo e chegando mais perto, constatou que era um jovem e que ele não dançava, mas, por repetidas vezes, abaixava-se, apanhava algo na areia e, com toda a delicadeza, atirava na água.

Ao chegar bem perto, o homem sábio perguntou:

- Bom dia! O que você faz aqui?

O jovem parou e olhando-o nos olhos, respondeu:

- Estou devolvendo as estrelas–do-mar para as ondas.

O escritor, então, replicou:

- Eu vejo, mas eu queria perguntar o porquê de você estar jogando estas estrelas-do-mar para o oceano...

- O sol está muito forte e a maré está cada vez mais baixa. Se eu não fizer isso, elas acabarão morrendo.

- Meu jovem, você não percebe que há quilômetros e quilômetros de praia com estrelas-do-mar espalhadas por toda a parte? Todo esse trabalho não vai fazer a menor diferença. “

Após escutar atentamente, o jovem então se abaixou, apanhou mais uma estrela-do-mar, atirou-a nas ondas que quebravam e disse:

- Faz diferença para esta que eu acabei de jogar! “

A resposta do jovem deixou o homem surpreso e incomodado. Ele não tinha o que mais argumentar. Então, decidiu retornar para a sua rotina de trabalho, recomeçando a redigir os seus textos. Desde aquele dia, a imagem daquele jovem rapaz o perseguia. Ele tentava ignorá-la, mas a visão persistia.

Então, numa bela tarde, o sábio homem se deu conta de que, mesmo sendo cientista e poeta, ele era incapaz de enxergar a natureza essencial da atitude daquele moço. Ele finalmente percebeu que o rapaz havia escolhido ser não apenas um mero espectador do universo, mas alguém capaz de fazer a diferença. O sábio homem ficou com vergonha de si mesmo.

Naquela noite, o homem foi dormir preocupado. Quando o dia amanheceu, nele brotou um sentimento muito forte de que precisava fazer alguma coisa. Então, levantou-se, vestiu-se e foi à praia ao encontro do jovem. Passaram, juntos, a manhã inteira, recolhendo estrelas-do-mar e jogando-as de volta na água.

O gesto daquele jovem representa algo extraordinário que existe em todos nós. Todos somos dotados dessa capacidade de fazer a diferença com nossas ações positivas. Quando nos conscientizamos desse Dom, conquistamos, com a força da nossa visão, a capacidade de moldar o nosso futuro. Esse é o desafio de cada um de nós: encontrar estrelas-do-mar e devolvê-las à vida. Se fizermos isso de maneira equilibrada e consciente, o mundo será muito diferente.

Tradução livre da transcrição de áudio do filme "The Star Thrower", disponível em http://www.youtube.com/watch?v=dCMTMl6Cb3o
Materiais de apoio utilizados no Workshop "O Trabalho Voluntário na CEU" realizado em 8 de maio de 2010.