sábado, agosto 21, 2010

A variedade de significados

Havia no Tibete um homem que era considerado muito estúpido. Ele teria que visitar uma certa família, e estava ansioso para impressioná-los e fazê-los supor que, longe de ser estúpido, era uma pessoa de certa inteligência. Desse modo, seus pais deram-lhe instruções bem claras: "Ao entrar na casa, você verá que o vão da porta é de madeira. Esse marco é feito de uma madeira chamada carvalho. Tão logo veja a soleira, aponte e diga: 'Isso é carvalho"'.

O filho partiu para visitar a família e tudo parecia ir bem. Ele avistou a soleira, apontou e disse: "Isso é carvalho!". Na mesma hora, todos começaram a achar que afinal de contas era bastante inteligente. Foi quando começou a apontar para toda a mobília e cada pedacinho de madeira que via na casa, exclamando continuamente: "Isso é carvalho. Aquilo é carvalho..."

Desse modo, embora o contexto possa parecer semelhante, não podemos presumir que um termo específico vá manter sempre o mesmo sentido onde quer que ocorra. Descobri que é essencial ter um entendimento adequado das diferentes nuances de significado desses termos, e da maneira com que podem variar de acordo com o texto. Creio que isso na verdade é essencial para todos os praticantes sérios.

Extraído de Dzogchen, A Essência do Coração da Grande Perfeição, Sua Santidade O Dalai Lama, p. 155, Ed. Gaia, São Paulo, 2006.